terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Alguém para amar

"Ao folhear um dos antigos romances de Stacy, Jace descobre uma fotografia de uma casa com uma mensagem codificada. «Nossa, mais uma vez. Juntos para sempre. Até lá». O bilhete datava do dia anterior à morte dela. Obcecado pela necessidade de entender o suicídio de Stacy, Jace parte para Inglaterra determinado em descobrir finalmente a verdade. Não demora a perceber que a casa está assombrada por um obstinado fantasma, Ann Stuart, com quem se vê obrigado a lidar para resolver o mistério. Através das suas investigações e com a ajuda de uma bela jornalista, Jace vê-se forçado a estabelecer a conciliação entre a vida e a morte da noiva.
Alguém para amar é uma bela descoberta sobre o tempo e o amor da autoria de uma das romancistas mais acarinhadas pelos leitores de todo o mundo. "

Escolhi este livro para fugir um pouco do género que vinha lendo, desconhecendo por completo a autora do mesmo. Nunca fui muito de romances lamechas, mas achei a história hilariante e completamente fora do vulgar. Parecia possuída pelos fantasmas retratados uma vez que não conseguia parar de ler, e nem tanto pela história!
Uma autora que vou definitivamente manter debaixo de olho!
Mais impressões aqui

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ser demais

“O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... sei lá de quê!”

Florbela Espanca

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

NÃO ME IMPORTO COM AS RIMAS

Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra,
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.
Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural como o levantar-se vento…

Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ser surpreendido

Quem gosta de pequenos contos, de traços inesperados e surpreendentes, tem aqui este livro:


"Minimalistas, fantásticas, provocadoras, estas quarenta e oito "histórias-clip" de Etgar Keret são outros tantos mergulhos num universo literário inédito. Escritas em estado de urgência, de respiração suspensa, elas brincam com a verosimilhança, fazem explodir as deixas esperadas, confundem as pistas, e a sua temível brevidade só as torna mais aptas para abraçar o inquietante absurdo de um mundo à deriva."

Etgar Keret é um romancista israelia, autor de BD e realizador.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A Cura de Schopenhauer

Inicialmente, temos a trágica notícia para Julius: tem um melanoma, em fase terminal. Confrontado assim com o fim próximo, ele, psicoterapeuta, decide procurar um antigo paciente com o qual não teve sucesso. Philip, que agora também é psicoterapeuta, numa troca de favores, aceita participar no grupo que Julius está a acompanhar, como paciente.

Aqui a questão que surge é sobretudo a solidão, o isolamento social, o que se esconde naquilo que se parece mostrar aos outros. Philip, inteligentíssimo e distante, especialista e fã de Schopenhauer, passa o tempo a citar as suas frases anti-sociais. De notar que Philip, anteriormente, foi um viciado em sexo, que todas as noites tinha de ter uma nova conquista e aventura.

Paralelamente, o autor recua 150 anos e vai-nos relatando a vida do filósofo, também um anti-social, com atitudes de superioridade, de ser de outro mundo. Um homem angustiado com a vida (pensa-a como sendo um interregno na não-existência, com dois pontos em que se separa desta: o nascimento e a morte), e que tem uma vida pobre de relacionamentos, tentando afastar-se daqueles que chama desprezivelmente de “bípedes”.

No centro do romance, os vários pacientes da psicoterapia, de uma ou outra forma, por um ou outro motivo, deixaram de acreditar no outro, são pessimistas na forma como encaram as relações com os outros. Quem é o outro? Quais as suas reais intenções? Não é melhor fechar-me num castelo-fortaleza, inacessível seja a quem for? Quem sou eu por detrás desta carapaça? O que tenho medo de mostrar, até para mim mesmo? Mas neste enquadramento emerge uma realidade comum a todos: a falta de afecto, a incapacidade de relacionar-se.

Alguma resignação – ou melhor, sentimento de impotência – perpassa ao longo das páginas em que as sessões de psicoterapia acontecem.
O atravessamento da ponte, da barreira até ao mais íntimo de cada um, só acontece pela fragilização individual, pelo choque, pelo dar um passo em frente. Os diálogos são violentos, agressivos, no sentindo em que vão mexer no baú das vivências de cada um.

Philip, Pam, Tony, Bonnie, Rebecca, Gill, Stuart... e Julius. Problemas de isolamento, de relacionamento, de afecto, de alcoolismo, sexuais... que vão sendo esmiuçados em conjunto, tentando novas abordagens. As relações que se vão estabelecendo entre eles, as tensões, os gritos, vão permitir que cada um deles olhe para dentro de si e encontre a peça chave que desarmadilha o edifício em que estão prisioneiros. E quando começam a descer as barreiras, a ficar mais dóceis interiormente, dá-se o click.

Em certa medida, é um livro sombrio, pois agarra a condição humana em aspectos menos positivos da vida: “a morte, a solidão, a falta de sentido da vida e o sofrimento a ele inerente” (pág. 197). E a cada página lida, apesar da procura de uma escapatória a este ambiente, o clima parece que se adensa, numa espécie de nevoeiro que oculta o caminho.

“A Cura de Schopenhauer” é um interessante contraponto ao outro romance de Irvin D. Yalon, e que li há um ano e meio: “Quando Nietzsche Chorou” (ver as minhas breves impressões aqui e aqui).

Ambos são livros profundamente psicológicos e que fazem viagens profundas ao interior de cada um.
Como ponto comum aos dois livros, essa procura no mais profundo de cada um, extraindo as forças para continuar a andar, para olhar o futuro.
Por outro lado, enquanto “Quando Nietzsche Chorou” é mais positivo, foca muito a amizade, este “A Cura de Schopenhauer” centra-se nas disfunções relacionais, nas incapacidades para fugir ao isolamento e relacionar-se.

Inicialmente a leitura de “A Cura de Schopenhauer” deixou-me de pé atrás. Mas, a partir de certa altura, fui sugado pelo enredo e li convulsivamente para saber a “solução”. E muitas interrogações ficaram na minha cabeça, para mim. Foi como olhar ao espelho, sem filtros, sem maquilhagens. O abalo com epicentro interior é forte!

E fica um desafio para mim daqui a algum tempo: ler as duas obras sequencialmente. Se calhar será um abalo muito forte. Mas igualmente um desafio gigantesco numa perspectiva individual.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Notável página na História

A eleição de Barack Obama como presidente dos EUA fica como uma importantíssima página na História.
O inspirador discurso deste afro-americano levou-o à Casa Branca.
Um discurso positivo, afirmativo, mobilizador, carregado de esperança. Para além dos paradigmas estabelecidos em Washington.
Possam as próximas páginas ser tão notáveis e históricas como as escritas até agora.

Do seu notável discurso de vitória, em Chicago, destaco estas passagens:

"
E a todos aqueles que se interrogavam sobre se o farol da América ainda brilha com a mesma intensidade: esta noite provámos novamente que a verdadeira força da nossa nação não provém do poder das nossas armas ou da escala da nossa riqueza, mas da força duradoura dos nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e uma esperança inabalável."

"Este é o nosso tempo para pôr o nosso povo de novo a trabalhar e abrir portas de oportunidade para as nossas crianças; para restaurar a prosperidade e promover a causa da paz; para recuperar o sonho americano e reafirmar aquela verdade fundamental de que somos um só feito de muitos e que, enquanto respirarmos, temos esperança. E quando nos confrontarmos com cinismo e dúvidas e com aqueles que nos dizem que não podemos, responderemos com o credo intemporal que condensa o espírito de um povo: Sim, podemos."

(discurso completo aqui)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Dewey

“Que influência pode um animal ter? E quantas vidas pode um animal tocar? Conheça a maravilhosa história do gato que comoveu o mundo!”

Eu fiquei comovida logo nas primeiras páginas...mas também no que toca a gatos, como é possível não ficar?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Ensaio sobre a Cegueira

“Ensaio sobre a Cegueira”, essa obra maior de José Saramago cujo filme estreia em breve, é um romance desconcertante, inquietante, violento, duro, de uma dureza crua. Com múltiplas leituras, todas elas chocantes e dramáticas.

O romance, em termos gerais, trata de uma cegueira branca que começa a alastrar vinda ninguém sabe de onde. E a vida mergulhada nessa cegueira leitosa. Uma trágica vida feita de caos. Sem olhos, não há ordem social que resista.

Apenas uma mulher escapa à cegueira. E, embora parecendo algo bom, é doloroso, pois só ela consegue ver até que ponto o Homem pode chegar. E vendo, tem de calar, não pode partilhar aquilo que os seus olhos levam ao seu entendimento. Só ela absorve completamente a tragédia em que o mundo – o seu, o dos outros, o de todos – está mergulhado.

Sem olhos, cada um é sem as balizas dos olhares dos outros. Degrada-se, cola-se à marginalidade, torna-se anti-homem. Ao mesmo tempo, o Homem obriga-se a ser transparente, pois fica despido do fato que a sociedade lhe impõe. Não consegue vislumbrar como vai esconder-se.

Ao nível da individualidade, as fragilidades são exacerbadas, pois cada um só é de facto visto pelo seu interior. Não precisa vestir uma carapaça que mostra perante os outros. E esta nudez do exterior conduz a dois comportamentos contrários: por um lado, a bondade, o melhor de cada um; por outro, o mais vil de cada homem vem à tona. O vandalismo social torna-se a regra.

Paralelamente a este olhar interior, podemos sentir a capacidade de viver sem julgar o outro. Porque cada um tem a sua própria cegueira. Ou, em versão proverbial, todos têm telhados de vidro.

Diz-se que os olhos são o espelho da alma. Mas… e se não houver olhos – para ver e para ser visto? Como é que cada um se relaciona com o outro? Como olha e como é olhado?

Sem estas janelas da alma disponíveis, o Homem condena-se à sua condição animal, ou menos que isso. Cada um só pode ser reconhecido pelo ruído das suas almas, pelos ecos que produz sob a forma de voz (“os cegos não precisam de nome, eu sou esta voz que tenho, o resto não é importante”). Como alguém diz a certa altura, “dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”. E o que somos? Em que nos transformámos?

Toda a vivência no manicómio, enquanto dura a quarentena, é uma lição, uma montra e uma amostra daquilo que o ser humano é capaz de fazer, para o bem e para o mal, até onde vai a degradação. Este manicómio é uma tela sobre a qual saltam os mais diversos aspectos da vida, desde o maior altruísmo, até ao máximo de egoísmo e irresponsabilidade. É chocante ler algumas passagens. E, ao mesmo tempo, põe-nos a olhar para o nosso mundo. Em que estádio estamos – quer individualmente, quer enquanto sociedade global? E para onde vamos?


“Ensaio sobre a Cegueira”, lido agora pela segunda vez, abalou-me da mesma forma que o fez há dez anos. Porque é duro, porque nos transporta para uma realidade que abala todos os alicerces sobre os quais estamos assentes. E questiona, linha a linha, página após página, como vivemos, quais os valores que nos servem de referência. E o que define o Homem enquanto tal.


"Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem."

sábado, 11 de outubro de 2008

“Que outros se gabem dos livros que lhes foi dado escrever; eu gabo-me daqueles que me foi dado ler.”

Jorge Luís Borges (1899-1986)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

José Saramago

Há 10 anos José Saramago era o escolhido para o Nobel da literatura.
Há 11 anos li "Ensaio sobre a Cegueira".
E fui maravilhosamente surpreendido!
Entretanto, já li vários outros romances de Saramago, mas este "Ensaio sobre a Cegueira" permanece, como uma obra maior, no topo das minhas escolhas.
Sendo uma excelente recordação, e estando o filme para breve, voltarei a embrenhar-me nele nos próximos dias.
Já o tirei da prateleira...

Alma e os Mistérios da Vida

“Na noite em que nasceste, madrugada adentro, coisas estranhas aconteceram”.
Assim começa a história de Alma, a criança de cabelos cor de fogo.
Rejeitada por todos na aldeia desde o primeiro momento, as pessoas olham com estranheza para aquele pequeno ser e para todos os acontecimentos sem explicação em que se vê envolvido e, por não conhecerem ou conseguirem explicá-los, reagem naturalmente com medo e maldade. Apenas Ti Efigénia sabe o quanto ela é especial, talvez por também ela viver isolada do resto das pessoas por ser considerada bruxa.
Anos mais tarde, a mãe de Alma numa tentativa de despachar aquilo que considera um caso perdido, envia-a para Lisboa como criada de servir. No Palacete da Lapa, Alma é acolhida por Dona Sofia que lhe dedica todo o seu amor, cuidando dela como da filha que nunca teve e pela primeira vez Alma sente-se desejada.
A história de Alma avança, as várias personagens que com ela interagem vão subindo ao palco da narrativa, são-nos relatados pequenos episódios da história de cada uma, com uma sensibilidade incrível, bem vincada em cada palavra ou imagem que nos toma de assalto. O eco dessas palavras agarra-nos a cada página e faz-nos deslizar através do relato, caindo suavemente nele.
Alma vai estudar para Coimbra onde conhece os prazeres da vida académica e …Ricardo.

No entanto, Dona Sofia morre inesperadamente e Alma regressa a Lisboa. Fadada para a desgraça, mais uma vez só, Alma cai num silêncio urdido de tristeza, num torpor que lhe dilacera as entranhas.
Para superar o desgosto muda-se para Paris, regressando pouco depois à capital onde reencontra Ricardo. Acometidos por uma atracção descontrolada e por uma fome de estar um com o outro, roubam à vida de cada um algumas horas para estarem juntos. Mas um laivo de realidade assoma na vida de Alma e esta foge de Ricardo e de si mesma para sempre e uma vez mais fica só, cumprindo o seu destino.

Não tinha ouvido falar do livro e nem conhecia a escrita de Luísa Castel-Branco, e foi com alguma relutância que tomei a decisão de o ler. Fiquei completamente rendida logo nas primeiras páginas, e mais uma vez me convenço “ (...) de que aquele livro tinha estado ali à minha espera (...) ” [in A Sombra do Vento]

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Cidade Nacional do Livro da Escócia

O génio de Gabriel García Márquez

Já li quase toda a obra de Gabriel García Márquez:
- O amor nos tempos de cólera;
- Cem anos de solidão;

- O outono do patriarca;
- Crónica de uma morte anunciada;

- Notícia de um sequestro;
- Memórias das minhas putas tristes;
- Ninguém escreve ao coronel;
- Olhos de cão azul;
- A revoada; e

- A hora má: o veneno da madrugada.

De uma ou outra forma, gostei de todos. O que menos me agradou (nem sequer consegui ver um denso fio condutor como em outras obras) foi "A hora má: o veneno da madrugada".
Em muitos dos seus romances há linhas que se tocam, por exemplo, as referências a Aureliano Buendía ou a Macondo.

O génio deste colombiano é um verdadeiro património da humanidade.
De todas aquelas obras, as que mais me maravilharam foram "Cem Anos de Solidão" (já li duas vezes, e haverá mais...) e "O Outono do Patriarca" (sobre um ditador decadente num país da América Latina, provavelmente a Venezuela).

O último romance que li dele - "A hora má: o veneno da madrugada" - anda à volta de uma pequena localidade, na qual quase todas as noites são afixados pasquins nas paredes, e nos quais se materializam todos os boatos que vão correndo à boca pequena, e que na prática já todos conhecem. Mas ninguém sabe quem é o autor dos pasquins, e o objectivo é prendê-lo.
Como em muitos dos seus romances, em fundo corre a envolvente política. A páginas tantas, o alcaide diz isto:
" - Aqui só o Governo tem o direito de proibir seja o que for. Estamos numa democracia."
Ou mais adiante:
" - A diferença entre antes e agora é que antes mandavam os políticos e agora manda o Governo."

Como disse, para mim não se trata de uma obra bem conseguida. Talvez por ser das iniciais: data de 1962.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A Sombra do Vento



Um romance surpreendente que começa por conduzir-nos ao Cemitério dos Livros Esquecidos, um santuário onde “ os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre (...)".
Numa das muitas prateleiras empoeiradas, Daniel Sempere encontra um livro que vai mudar o seu pequeno mundo, ao enredá-lo num emaranhado de intrigas, enigmas e segredos soterrados pelo Tempo numa Barcelona toldada pela Guerra.

Como que enfeitiçado, Daniel procura a todo o custo desvendar o mistério que envolve este livro, apelidado de maldito por muitos, ao estar ligado a uma estranha sombra que deambula nas trevas e que o persegue com o único propósito de apoderar-se do livro.

As palavras espalhadas naquelas páginas confundem-se com a realidade e atiram-no para uma série de acontecimentos surpreendentes.
As tramas e as intrigas urdidas à volta da trágica história de amor de Julian Carax, o autor do livro, começam a dissolver-se à medida que a narrativa avança e convida a todos a procurarem o seu pequeno momento de redenção e a revelarem finalmente os seus segredos …

Daniel percebe que não foi o acaso que colocou aquele livro no seu caminho, mas a certeza de que há histórias que esperam pelo momento certo para serem contadas e a de que
(...) poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho até ao seu coração (…).”

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A Inspiração da Leitura

"Fala-se às vezes de 'inspiração' a propósito de quem escreve uma obra. Mas nunca se diz isso de quem a lê. Mas lê-la é escrevê-la outra vez. E é preciso estar-se inspirado para o conseguir bem. A inspiração possível de quem escreve um livro cumpre-se nele sem mais para o autor. Mas a de quem o reescreve, ou seja lê, é sempre variável. Ela varia não só com o desgaste da repetição da leitura, mas ainda com a variação dessa variação e o motivo dela. Porque por arranjos incognoscíveis pode alternar a adesão com a repulsa e recuperar depois em adesão o que repelira e o contrário. Como pode tudo ter que ver com razões mais cognoscíveis ou razoáveis e tudo depender assim de um insulto que nos doeu ou de um vinho que nos caiu mal. Um livro que se escreveu é imutável. O mesmo livro que se lê não o é. A inspiração de quem escreveu deu o que tinha a dar. A de quem o recebe varia e não se esgota. Porque se se esgotar, o livro não tinha nenhuma."

Vergílio Ferreira
in 'Escrever'

domingo, 14 de setembro de 2008

"Odeio os livros; ensinam apenas a falar daquilo que não se sabe"

Jean Jacques Rousseau

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Biblioteca Sábado

Para os apreciadores de livros, a revista SÁBADO vai lançar nas próximas semanas mais uma série de livros, pelo preço simbólico de 1,00€:

- O Amante, de Marguerite Duras
- 18 de Setembro

- O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco
- 25 de Setembro

- Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy
- 02 de Outubro

- Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado
- 09 de Outubro

- Sputnik, meu Amor, de Haruki Murakami
- 16 de Outubro

- Uma Conspiração de Estúpidos, de John Kennedy Toole
- 23 de Outubro

- O Historiador, de Elisabeth Kostova
- 30 de Outubro

- O Carteiro de Pablo Neruda, de António Skarmeta
- 06 de Novembro

domingo, 7 de setembro de 2008

Entre o Céu e a Montanha

“Entre o Céu e a Montanha” é o primeiro romance de Will North, um americano que escreve sob pseudónimo.

Este romance relata a história de Fiona, proprietária de uma estalagem na Irlanda, cujo marido está doente, e de Alec, um americano que viaja até às montanhas irlandesas para espalhar as cinzas da sua falecida mulher. Entre ambos vai estabelecer-se uma profunda relação de amizade, amor e cumplicidade.

A história de Fiona e Alec tem qualquer coisa de “As Pontes de Madison County”, embora com menor carga emocional que o tórrido romance entre Robert Kincaid e Francesca.

No fundo trata-se do encontro de duas almas gémeas, já após uma vida feita ao lado de outras pessoas. Mas, apesar da idade de ambos, o amor ainda é possível, e, como diz Fiona no fim do livro, “temos o resto das nossas vidas.”

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Ninguém Escreve ao Coronel

“Ninguém Escreve ao Coronel” pode dizer-se que é um conto grande, no qual já se começam a ver as linhas da obra que lhe havia de dar o Nobel em 1982: Macondo e o coronel Aureliano Buendia, que marcam “Cem Anos de Solidão”, já aparecem neste romance de 1957.

Este pequeno romance anda à volta de um casal de velhotes cujo filho foi assassinado devido à luta de galos, e que recebem como herança do malogrado filho um galo de combate. Os velhotes, sem recursos para comer, ainda têm de alimentar o galo...

Para além disso, “num estilo puro e transparente, com uma economia expressiva excepcional que marcava já o seu futuro como escritor, García Márquez narra com brilho inaudito a história de uma injustiça e violência: um pobre coronel reformado vai ao porto esperar, todas as sextas-feiras, a chegada de uma carta oficial que responda à justa reclamação dos seus direitos por serviços prestados à pátria. Mas a pátria permanece muda.” (D. Quixote).

Já Ninguém Morre de Amor

Durante as férias andei a ler um novo autor para mim: Domingos Amaral, com Já Ninguém Morre de Amor.

É o típico livro de verão: leve, sem muitas complicações.
É a história de quatro gerações de homens Palma Lobo, desde Roberto Antunes Palma Lobo (1881 - 1916) até ao trineto Salvador.

Ao contrário do que o título sugere, são muitos os que morrem de amor neste pequeno romance sobre a família Palma Lobo.
São quatro homens, "nomes diferentes, mas o mesmo sangue e muito em comum: mulherengos, excêntricos, excessivos, marcados pela loucura e pela tortura da paixão."
Tanto amavam as mulheres por amor, como por ódio (quem ler há-de perceber por que o digo).
E as mulheres também gostavam muito destes homens, ou não tivessem um apreciável "mangalho", como se diz a determinada altura do livro.

Uma frase:
"... a razão e o coração viajam à velocidade dos pensamentos e dos sentimentos, mas o corpo viaja à velocidade da luz, do som e do cheiro."

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O Homem Lento - uma leitura

“Neste romance, Coetzee oferece-nos uma profunda meditação sobre o que faz de nós humanos e o que significa envelhecer, reflectindo no modo como vivemos as nossas vidas.

Como todas as grandes obras literárias, O Homem Lento levanta questões mas raramente oferece respostas. Em consequência de um acidente, Paul Rayment altera a perspectiva que tem da vida e começa a dedicar-se ao género de preocupações universais que nos definem a todos: O que significa fazer o bem? O que é que nas nossas vidas é, em última análise, significativo? É mais importante que alguém nos ame ou que alguém se interesse por nós? Como definimos o local a que chamamos «casa»?

Na sua voz lúcida e firme, Coetzee debate-se com estas problemáticas.

O resultado é uma história profundamente comovedora, sobre o amor e a mortalidade, que deslumbra o leitor em cada página.”


Sem uma escrita deslumbrante, este romance deixa uma série de interrogações e dúvidas.
Um homem fechado no seu casulo, ainda mais depois de um acidente que lhe tira uma perna. Que tem paixões impossíveis, que se agarra à primeira pessoa que lhe dá atenção, a enfermeira Marijana. Um homem que nunca soube lidar com o seu eu, que nunca soube falar com o coração, que nunca se despenteou por dentro. Um homem com medo. Por isso um homem só.

Às tantas surge este diálogo entre Paul (o protagonista) e Elizabeth:

"- Porque é que me chama tartaruga?

- Porque você fareja o ar durante séculos antes de deitar a cabeça de fora. Porque todo o santo passo custa um esforço tremendo. Não lhe estou a pedir que se torne uma lebre, Paul. Rogo apenas que perscrute o seu coração e veja se não consegue encontrar maneira, dentro do seu carácter de tartaruga, dentro da sua paixão de tipo tartaruga, de acelerar a sua corte à Marijana - se é efectivamente sua intenção continuar a cortejá-la.
Lembre-se, Paul, é a paixão que faz girar o mundo. Você não é analfabeto, deve saber isso. Na ausência da paixão o mundo estaria ainda vazio e informe."

domingo, 27 de julho de 2008

Tempos

No livro O Homem Lento (pág. 116)...

"Tome nota, Paul: esta vida são dois dias, e este já vai na conta. Por conseguinte, aproveite enquanto está bem. É sempre mais tarde do que a pessoa pensa."

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O que ler

"Leiam para fugir, leiam para viver aventuras, leiam para viver romances, mas leiam bons escritores. Descobrirão que são mais fáceis e dão mais prazer do que os escritores de segunda categoria."

Jacqueline Bouvier Kennedy (citada por Tita Santi Flaherty, em As Lições de Vida de Jackie)

copiado daqui

domingo, 20 de julho de 2008

Palavras impressas: estatuto editorial

Este blogue nasce pelas palavras, pelos livros, pelo cunho que as palavras nos impõem.
Pelas viagens que nos provocam, pelos mundos que visitamos através dos olhos, pelas sensações que se entranham a cada página lida.
Cada palavra é um mundo, cada página um planeta, cada linha um sentimento.

De regularidade imprevista, marcada pelo ritmo das leituras, o PALAVRAS IMPRESSAS será um puzzle de tudo o que as leituras impuserem:
- uma palavra,
- um verbo,
- uma frase,
- um excerto,
- uma imagem,
- uma impressão.

A ideia deste blogue é esta mesmo: perder-se nas palavras impressas a que chamam livros, mas que muitas vezes são mais do que isso.