segunda-feira, 27 de maio de 2013

sábado, 25 de maio de 2013

Feira do livro de Lisboa


Já lá fui.
Já me desgracei.
Vieram oito (aproveitando promoções e afins):
- O Espião que Saiu do Frio, de John Le Carré;
- Agosto, de Rubem Fonseca;
- A Cidade de Ulisses, de Teolinda Gersão;
- A Ilha, de Sándor Márai;
- Dublinesca, de Enrique Vila-Matas;
- A Cidade dos Prodígios, de Eduardo Mendoza;
- Submissão, de Amy Waldman;
- Servidão Humana, de Somerset Maugham.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O Carteiro de Pablo Neruda




Mario Jiménez, um jovem pescador, decide um dia que não foi talhado para as lides do mar e resolve abandonar o seu ofício para se converter em carteiro. Torna-se assim no carteiro do poeta Pablo Neruda, o único que recebe e envia correspondência na Ilha Negra.
Mario admira Neruda e aguarda o dia em que o poeta lhe dedique um livro ou aconteça mais do que uma breve troca de palavras ou o gesto ritual da gorjeta. O seu desejo ver-se-á finalmente realizado e entre os dois vai estabelecer-se uma relação muito peculiar.

Mario começa a ler a poesia de Neruda que começa a despertar-lhe sentimentos muito próprios. Não conseguindo resistir-lhe, começa a viver intensamente não só as metáforas que dão um sentido inesperado à sua vida, mas vai também ganhando consciência política, ou não estivéssemos nós em 1969.
Skármeta conta-nos a história de Mario a par e passo com a de Neruda, comunista assumido, galardoado em 1971 com o prémio Nobel da Literatura, com a de Salvador Allende, o primeiro marxista a ser eleito democraticamente em todo o mundo ocidental e a de Augusto Pinochet, o homem de direita que tomou o poder após um golpe militar que acabaria por ditar a morte de Allende, ainda que o nome deste último não apareça em nenhuma das páginas que compõem o livro.
As metáforas servem os desígnios do amor e Mario acaba casado com Beatriz González e Neruda como testemunha. Durante a cerimónia, o poeta recebe a notícia de que será Embaixador em Paris. Com a sua partida, Mario entrega-se a sentimentos de revolta com a vida e com a sua condição de explorado.
Neruda pede entretanto a Mario que lhe envie os sons da sua terra e este decide juntar um poema da sua autoria à gravação. Mostrando sempre gratidão e admiração pelo poeta, Mario dedica-lhe "Ode à Neve sobre Neruda em Paris":


"Branda companheira de passos sigilosos,
abundante leite dos céus,
imaculada fachada da minha escola,
lençol de viajantes silenciosos
que vão de pensão em pensão
com um retrato amarfanhado nos bolsos.
Ligeira e plural donzela,
asa de milhares de pombas,
lenço que se despede
de não sei bem o quê.
Por favor minha pálida bela,
cai amável sobre Neruda em Paris,
veste-o de gala com o teu alvo
traje de almirante,
e trá-lo na tua leve fragata
a este porto onde sentimos tanto a sua falta."


Neruda regressa à Ilha Negra, mas vem doente, preconizando o fim de um período de sonho e de esperança. A situação crítica do Chile, à época, precipita o golpe de Estado que leva ao poder Augusto Pinochet a 11 de Setembro de 1973. Mario consegue chegar à fala com Neruda, recolhido no seu quarto desde que chegou de Paris, com febres muito altas. Não tardou que o poeta fosse levado para Santiago, onde viria a morrer na Clínica Santa Maria, a 23 de Setembro de 1973. A televisão noticiou a morte de Neruda. Mario não dormiu nessa noite e, por volta das cinco da manhã, vieram-no buscar para uma acção de rotina. O que aconteceu ninguém sabe, mas a consciência política pode revelar-se um perigo quando serve para despertar outras ...