terça-feira, 31 de março de 2009

As velas ardem até ao fim

“As velas ardem até ao fim” é um daqueles livros feitos de emoções e memórias. E, como já disse uma vez, um livro cujo deslumbramento começa no título.
É um romance intenso, em que, numa noite, dois homens já velhos conversam, passados 41 anos e 43 dias sobre um facto que lhes marcou a vida e o destino.
Henrik é o general, o anfitrião; Konrád é o visitante. Após o jantar em que se reencontram, passam em revista episódios das suas vidas. Sobretudo da perspectiva de Henrik, pois o outro limita-se a responder monossilabicamente. É uma conversa tensa, dura, surpreendente.
Enquanto falam, as velas que estiveram na sala em que se juntaram pela última vez, há 41 anos, vão sendo consumidas. Uma luz ténue, como o ambiente que paira entre ambos, ilumina o espaço. Uma penumbra. É a metáfora perfeita do episódio que lhes traça o destino.
Apenas um pequeno lampejo das suas juventudes, do tempo em que se conheceram e em que viveram juntos em Viena. Henrik era de uma família abastada, saía à noite, convivia, era quase boémio. Konrad, pelo contrário, era reservado, pobre, passava as noites metido nos seus estudos.
Passadas quatro décadas, há algo mais.
Esta noite, sentados frente a frente na penumbra de uma sala, com as velas a arderem até ao fim, tudo é revelado.

Há uma frase, dita por Henrik, que quanto a mim resume a história: “há demasiada tensão nos corações humanos, demasiada paixão, demasiada vingança”.

Sándor Márai faz, a partir de uma história simples e relativamente curta, uma obra incomparável.

A resenha deste fantástico livro:
“Um pequeno castelo de caça na Hungria, onde outrora se celebravam elegantes saraus e cujos salões decorados ao estilo francês se enchiam da música de Chopin, mudou radicalmente de aspecto. O esplendor de então já não existe, tudo anuncia o final de uma época. Dois homens, amigos inseparáveis na juventude, sentam-se a jantar depois de quarenta anos sem se verem. Um passou muito tempo no Extremo Oriente, o outro, ao contrário, permaneceu na sua propriedade. Mas ambos viveram à espera deste momento, pois entre eles interpõe-se um segredo de uma força invulgar…”

segunda-feira, 16 de março de 2009

O Terceiro Segredo

O terceiro segredo de Fátima, ordenado para ser lido e publicado em 1960, foi aberto por João XXIII. O Papa viria a declarar que a mensagem não se referia ao seu pontificado pelo que preferiu deixar a sua divulgação para os seus sucessores. O segredo ficou guardado numa caixa de madeira com a inscrição secretum sancti officio, Segredo do Santo Ofício e depositado na reserva – arquivo do Vaticano. A mensagem, que apenas podia ser consultada pelo Santo Padre, foi do conhecimento de todos os papas desde João XXIII, contudo nenhum a tornou pública. Até chegar o pontificado de João Paulo II.
Quando em 1981 João Paulo II sofre um atentado em Fátima, resolve em sinal de agradecimento à Virgem de Fátima por ter sobrevivido, revelar o segredo que faltava. Estávamos no ano de 2000. As complexas metáforas da Virgem foram interpretadas e divulgadas. A revelação foi um misto de fascinação e de desilusão, uma vez que o segredo não encerrava uma verdade tão horrenda que não pudesse ter sido divulgada junto com os outros segredos. E é aqui que reside a dúvida. Terá sido o terceiro segredo de Fátima revelado na íntegra?
O assunto foi sendo esquecido. Não por todos, o protagonista do nosso livro não conseguia esquecer e vivia obcecado.
Este é o mote para o desenrolar da cruzada de Clemente XV e de Michener, o seu secretário, em descobrir a verdade sobre o segredo de Fátima.
Indícios de que o Terceiro Segredo não foi revelado na sua totalidade levam Michener até à Roménia, a pedido de Clemente XV para falar com o Padre Andrej Tibor, autor da tradução da mensagem portuguesa original, feita a pedido de João XXIII.
Esta viagem repentina de Michener aguça a curiosidade de Valendrea, Secretário de Estado do Vaticano que, através de escutas colocadas um pouco por todo o lado pelo seu assistente Ambrosi, fica a saber o motivo da viagem. Procura que a verdade seja preservada e não se inibe de utilizar todos os meios ao seu alcance para que assim seja. "Todos os movimentos religiosos têm os seus mártires. E nós acabámos de ver o último da Igreja Católica."
A notícia da morte de Tibor abala profundamente Clemente XV. A sua hora chega pouco depois e Valendrea vê finalmente a sua oportunidade de ser ordenado Papa.
Michener recebe uma comunicação póstuma de Clemente XV em que confessa finalmente tudo aquilo que o atormentava sobre a terceira mensagem de Fátima e faz-lhe um derradeiro pedido: colocar as coisas no seu lugar. E para isso era imperativo ir a Medjugorje e conhecer o décimo mistério que ainda não havia sido divulgado.
Com o conclave a decorrer para a eleição de um novo Papa, Michener parte para a Roménia, satisfazendo o último pedido de Clemente enquanto Valendrea conspira pelos corredores do Vaticano para ser eleito.
Para saborear em pleno a sua vitória terá de assegurar a não divulgação da cópia da tradução que Tibor enviou a Clemente - a parte do terceiro segredo que não foi revelada – a parte que ele retirara anos antes da reserva e que teria a todo o custo que recuperar.
O confronto final entre o bem e o mal coloca finalmente as coisas no seu devido lugar, sendo a verdade revelada (e que verdade, pena tratar-se de ficção, ou não...).
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O destino da Igreja Católica continua um mistério. Para o reformista João XXIII, e nas suas palavras proferidas no Concílio Vaticano II, haveria que trabalhar em consonância para que a cidade terrena possa ser construída à imagem e semelhança da cidade celestial, onde reina a verdade.
Mas a verdade de uns não tem necessariamente de ser a verdade de outros.
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Não é por acaso que os livros de Steve Berry se tornam best-sellers. Com uma linguagem ágil que conquista o leitor desde a primeira linha, que lhe aguça o apetite, que planta a ansiedade no desenrolar de cada episódio, este é conduzido com mestria embrenhando-se numa complexa mas bem estruturada trama a que fica completamente rendido.
Da forma como o livro nos é apresentado, quase esquecemos que estamos perante um tema polémico e uma instituição que gera ainda mais polémica.
Recomendo!
Para quem tiver curiosidade em conhecer o autor e outras publicações, site oficial aqui

sábado, 14 de março de 2009

O Pecado de Darwin

Bem... este romance passa-se em dois ou três tempos. No tempo de Darwin, fazendo uma espécie de biografia; nos dias de hoje, com uns jovens universitários que querem escrever algo nunca revelado sobre o cientista inglês; e com umas cartas/diários da filha de Darwin, Lizzie.

Revelando o pecado de Darwin… é preciso ler 300 páginas para se chegar lá.
Embora premiado mundialmente, não considero que seja um livro fantástico. Escrita nada surpreendente, enredo não apaixonante (só mesmo a investigação e a ligação dos jovens Hugh e Beth provocaram a minha curiosidade)...

Se não fosse a capa convidativa, e o facto de se celebrar Darwin em cada esquina…

Se vale a pena? Hummm... dispensável.


Vamos então ao próximo...
O regresso a um pequeno romance lido há poucos anos e cujo nome é todo um poema: "As velas ardem até ao fim", de Sándor Márai.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Algum livro lhe mudou realmente a vida?
Acho que não, mas a vida mudou (a forma como reli) alguns livros.

José Miguel Júdice, em entrevista à edição de Março da revista LER.