quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Terceiro Homem

O Terceiro Homem não foi escrito para ser lido, mas sim para ser visto”, indica o prefácio em jeito de apresentação. 
De facto, esta história foi escrita como argumento para um filme realizado e interpretado por Orson Welles, em 1949. 
A acção decorre em Viena, no rescaldo da II Guerra Mundial, estando a cidade então dividida entre as quatro potências aliadas (Rússia, Inglaterra, França e Estados Unidos). 
Holly Martins (que no meu livro é Rollo Martins…) chega à cidade para encontrar-se com o amigo Harry Lime, mas este tinha sido atropelado e falecera. Vai apenas ao seu funeral. 
Martins, sendo um escritor medíocre, veste a pele de espião para desvendar o que realmente está por trás da morte de Lime. Assim, vai descobrindo que o seu amigo estava envolvido em situações pouco claras. 
Apresentando-se sempre como muito amigo de Harry Lime, conhece várias personagens que lhe vão permitir perceber quem realmente era o amigo, e esclarecer o que se passou na noite do atropelamento. Esta investigação por conta própria, em clima de constante suspense, vai levá-lo a desvendar segredos do seu amigo, que afinal era um homem sem escrúpulos. 
A reviravolta final acontece nos últimos capítulos, quando Martins vê alguém numa esquina… 
E nada é o que parece. 


Sem uma escrita fulgurante, Graham Greene pinta um mundo de espionagem na Europa de meados do séc. XX. 
Ao longo das poucas páginas deste livro, sentimos a tensão de uma investigação feita nesse ambiente pós-guerra, em que ninguém é de confiança, e ninguém pode desconfiar da verdadeira intenção de Martins. 
Um aspecto que me perturbou na leitura foi a quase indefinição de um narrador. Ora esse papel cabia a um polícia-espião que, de certa forma, acompanha Martins, ora não há esta terceira pessoa a contar a história de fora.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Sétimo Papiro

Tudo começa quando Duraid Al Simmu e Royan descobrem no túmulo da rainha Lostris uma série de papiros deixados por Taita, o seu escravo pessoal. Os papiros são o seu último tributo, o seu legado além-túmulo e parecem ser uma espécie de diário.

Ao decifrarem cada um deles, rapidamente descobrem que o sétimo papiro poderá conter a chave de um segredo com cerca de quatro mil anos. Nele, Taita, relata o funeral do faraó Mamose e regista a grandiosidade dos tesouros que o acompanham na sua viagem para o além. Duraid Al Simmu e Royan estão certos de que, decifrando os enigmas de Taita, ser-lhes-á revelada a localização exata do túmulo do Faraó Mamose.

Mas, ainda antes do papiro estar completamente decifrado, Duraid é brutalmente assassinado e os cadernos, todas as suas notas e o papiro desaparecem. Royan consegue escapar e sofre mais uma tentativa para acabarem com a sua vida. Parece haver alguém obstinado e disposto a tudo para localizar o tesouro.

Depois das cerimónias fúnebres, Royan resolve regressar a Inglaterra para cumprir a promessa que fizera a Duraid antes de ele morrer. Sem perder tempo, procura Nicholas Quenton-Harper, um aristocrata e eminente colecionador de antiguidades (não pode ser verdadeiramente chamado de arqueólogo) e desafia-o a partir rumo à Etiópia em busca do túmulo perdido do Faraó Mamose. Quenton-Harper não pensa duas vezes. Além de que esta poderá ser a oportunidade que esperava para sair do buraco financeiro em que se encontra, a ideia de poder vir a viver mais uma grande aventura é mais forte do que qualquer outra.

Nicholas prepara tudo como se fosse caçar para as terras altas da Etiópia e conduz-nos pelas estradas quentes, paisagens e margens do Nilo ao longo de vários quilómetros que é como quem diz páginas. As buscas começam e são vários os indícios de que Taita terá estado ali milhares de anos antes, procurando o lugar ideal para a construção da última morada do Faraó.

Visitam um mosteiro por altura das festas e descobrem que aquele poderá ser o túmulo de Tanus ou do próprio faraó Mamose, uma vez que Royan acredita que Taita trocou as múmias, prestando uma última homenagem ao seu querido amigo. Numa incursão noturna ao mosteiro, descobrem o testamento de Taita. Decifradas as charadas que contém, estarão mais próximos de descobrir o túmulo.

Decidem regressar a Londres e preparar-se para o começo das escavações antes do período das chuvas, mas os seus inimigos conspiram nas sombras e são impedidos de voltar à Etiópia como turistas. Este pequeno revés não os impede contudo de regressar. Estão demasiado perto de conseguir descobrir a última morada do Faraó Mamose e todos os seus tesouros...
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Exímio contador de histórias, Wilbur Smith coloca-nos no centro de mais uma intriga, recheada de suspense, numa aventura passada no Antigo Egipto onde Taita é protagonista e é quem, mais uma vez, dita as regras.

domingo, 20 de maio de 2012

O Teu Rosto Será o Último


O primeiro romance de João Ricardo Pedro é notável!
Começo a ler a pensar o que virá aí... 
Com frases curtas, objectivas, cruas, cadenciadas, sou apanhado por este romance vencedor do Prémio Leya de 2011, e primeiro livro do autor. Surpreendente!
Com capítulos aparentemente autónomos, que constituem quase mini-contos, João Ricardo Pedro vai bordando a história de uma família com origem numa terra com nome de animal no lado sul da Gardunha.
De uma forma simples, crua, leve, e impetuoso, com humor e comparações surpreendentes, o autor junta episódios, conta histórias, diverge para algo aparentemente lateral...
A forma como enumera factos, coisas, situações, semelhante ao que fazia Saramago, confere velocidade à narrativa e dá-nos vontade de ler mais e mais.
E a surpresa que espreita a cada frase, a cada parágrafo, lançando momentos surreais no meio da narrativa, leva-nos a esboçar muitos sorrisos a cada página lida.
O centro do romance acabará por ser Duarte, o jovem promissor de uma família com muito passado. E é à volta dele que vão ficando impressas as outras personagens: o avô Augusto Mendes, a avó Laura, o pai António, a mãe, o amigo pobre... tudo no Portugal dos nossos pais, avós e até um pouco de todos nós.
Tem capítulos que são uma primorosa obra de arte, como por exemplo o da mãe de Duarte. Tem outros capítulos que aparentemente não acrescentam nada à narrativa, mas que dão gozo ler imaginando o prazer que deram a escrever.
“O teu rosto será o último” é um dos livros que mais gostei de ler nos últimos tempos.

Uma campanha de marketing muito bem feita, a unanimidade dos críticos sobre a qualidade da obra, o destaque permanente na feira do livro, e temos um sucesso literário escrito por um engenheiro desempregado.
Na feira, ao pedir um autógrafo, perguntei ao João Ricardo Pedro como tinha surgido a história: se já a tinha na cabeça, ou se foi sendo feita à medida que escrevia. Disse que foi esta última, e com tempo.
A teia ficou muito bem urdida.
Como ele dizia ao autografar o livro, “espero que goste”.
Eu gostei muito!

Entrevista do autor aqui.

sábado, 12 de maio de 2012

Meu Pé de Laranja Lima


Este é o livro que consagrou José Mauro de Vasconcelos, autor brasileiro nascido em 1920. 
Esta é a história de Zezé, um menino de 6 anos, “pobre, inteligente, sensível e carente. Com a falta de afecto que não encontra na família, o endiabrado rapaz vai pelas ruas fazendo mil travessuras. 
Zezé aprende tudo sozinho, é o “descobridor das coisas”. Descobre a ternura e o carinho no amigo “Portuga”. Inventa para si um mundo de fantasias em que o grande confidente é Xururuca, o pé de Laranja Lima. Mas a vida ensina-lhe tudo demasiado cedo, e Zezé descobre o que é a dor e a saudade”. 
É um mundo visto pelos olhos de uma criança de 6 anos, cheia de traquinices, que nos seduz e encanta a cada página (apesar de escrito em brasileiro baiano). Zezé é, simultaneamente, uma criança ternurenta e cheia de ideias traquinas: é ele que vai engraxar sapatos para oferecer um maço de cigarros ao pai desempregado; é ele que faz uma cobra a partir de uma meia para assustar pessoas; é ainda ele que rouba flores para dar à sua professora, a mais feia de todas; é também ele que jura matar o Portuga, de quem se vem a tornar amigo inseparável... 
Este é um Principezinho em versão pobre e que enfrenta um mundo de dificuldades. Mas, por isso mesmo, um hino à sensibilidade, ao amor, e à própria infância. 


Para quem aprecia histórias simples, com palavras simples, mas repletas de sentido e significado, este é um livro que recomendo sem meias palavras.

(O facto deste livro estar escrito em brasileiro baiano inicialmente dificultou a leitura. Mas rapidamente entrei no registo, e mudei de língua em cada página lida. É apenas uma questão de estilo).

sexta-feira, 11 de maio de 2012


‎"Os meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever, inclusive a sua própria história."

Bill Gates