quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Corpo Estranho







Nem sei por onde começar tamanha é a desilusão com o livro e com o seu autor.
Quando ouvimos falar em Robin Cook, invariavelmente ouvimos dizer que ele é o pai do thriller médico e dão-nos conta do seu sucesso ao referirem a sua vasta obra publicada. Contra ESTES factos não há argumentos.
Contudo, confesso que fiquei desiludida ao ler aquele que será o seu 25º título, deveria ter começado pelo primeiro? Terá sido esse o meu erro?

Mas passemos à história:
Jennifer Hernandez, a nossa protagonista, é uma estudante de medicina no seu último ano na UCLA. Enquanto fazia tempo na sala de espera do hospital, olha distraidamente para a TV e fica a saber através da CNN que a sua avó, Maria Hernandez, morreu após cirurgia num hospital na Índia. Chocada, parte de imediato para Nova Deli, devastada pela notícia. Dirige-se ao hospital onde tudo aconteceu e imediatamente é pressionada para tomar uma decisão: cremar ou embalsamar. Jennifer não quer tomar nenhuma decisão precipitada e tenta ganhar tempo enquanto procura respostas e recuperar do jet-lag. Nessa mesma noite, sem conseguir dormir, liga a TV para procurar pôr-se a par de possíveis desenvolvimentos na CNN sobre a história da avó. Fica a saber de mais um caso de morte e começa a suspeitar de que algo de estranho se passa.

Acorda e lembra-se de procurar o apoio de Laurie, uma amiga de longa data e que por mero acaso ela e o marido são patologistas forenses e ambos trabalham como médicos legistas (coincidência fantástica?!). Imediatamente, Laurie e Jack viajam até à Índia (como se a Índia estivesse logo ali ao virar da esquina), para examinarem o corpo de Maria Hernandez, quando o hospital se recusa terminantemente a efetuar uma autópsia. No dia seguinte, outro hospital regista mais uma morte. Imediatamente Jennifer entra em contacto com as viúvas e pede-lhes para não tomarem qualquer decisão em relação aos corpos, porque aguarda a chegada dos amigos que irão desvendar o dito mistério (que, nós leitores, já conhecemos desde as primeiras páginas do livro!). Jennifer faz entretanto algumas investigações por conta própria, ganhando alguns inimigos que procuram tirá-la do seu caminho.

Os amigos chegam finalmente a Nova Deli e dirigem-se ao Queen Victoria Hospital para uma consulta marcada previamente de Nova Iorque. Após a consulta, colocam o médico a par da razão da sua vinda à Índia e ainda conseguem a sua (preciosa) ajuda para realizarem a autópsia (terminantemente negada pelo hospital onde este trabalha!), como se fosse a coisa mais natural do mundo, e ainda trata de conseguir as instalações perfeitas à sua realização (qual é a probabilidade de isso acontecer na vida real? mais uma coincidência fantástica!). Conseguem em seguida tirar o corpo de Maria Hernandez do hospital e realizar a autópsia. Enquanto isso, Jennifer é raptada pelos conspiradores que querem perceber o que a fez suspeitar das mortes não serem naturais. Enquanto Laurie e Jack tentam chegar até junto dos outros dois corpos (e conseguem com a maior das facilidades), Jennifer consegue evadir-se precisamente com a ajuda da enfermeira que matou a sua avó...!
Os conspiradores são punidos e como num conto de fadas, todos vivem felizes para sempre! E o mais incrível é que tudo acontece no espaço de uma semana...


A conspiração é-nos revelada assim que Jennifer aterra na Índia, não chego a perceber onde está o dito mistério e quanto ao suposto suspense, não chego a perceber de todo! Na minha (modesta) opinião, o livro revela uma TREMENDA FALTA de imaginação, e se não estivéssemos a falar de Robin Cook, diria que o livro fora escrito por um amador neste tipo de enredos...

sábado, 19 de novembro de 2011

A Curva do Rio


“O mundo é o que é; os homens que não são nada, que se permitem tornar-se nada, não têm lugar nele”
É com esta frase que V. S. Naipaul, prémio Nobel da Literatura em 2001, inicia A Curva do Rio, cuja história decorre num país africano sem nome, numa cidade interior, na curva de um rio.
Salim, um jovem filho de indianos, compra uma loja numa cidade do interior desse país africano e pensa que assim terá um bom futuro. Mas num país pós-colonial, com enormes atrasos e sem sociedades desenvolvidas no sentido europeu, o conflito é uma realidade permanente.
A cada linha vemos as relações de dependência entre as pessoas, a escravatura, a pobreza, corrupção. Ao lado disto, temos um poder político omnipresente, primeiramente como esperança, depois como a única realidade dominante. E que a mim fez lembrar Orwell no seu assustador 1984.
Salim não tem grandes relações sociais. Num país africano, ele é indiano e as suas relações mais próximas são com indianos. De entre essas relações destacam-se um casal também comerciante que foi para a cidade, mas que vive de medo. Um casal de aparência social com o qual almoça uma vez por semana.
Além deste casal há Metty, um escravo da sua família que é impingido para ir viver com ele nessa cidade do interior. É muito interessante ver a relação entre ambos ou, indo mais além, seguir a ligação existente entre esses escravos e os seus senhorios. Em muitas situações é o escravo que acaba por ser o senhor. A relação entre Salim e Metty oscila entre a quase cumplicidade e o parasitismo puro.
Há ainda um amigo de juventude que graças aos estudos consegue ser próximo do presidente. É colocado na Cidade Nova, reencontra Salim, e a partir daqui seguem-se várias peripécias romanescas e as soirées (lembrou-me Os Maias) com pessoas relevantes socialmente. Raymond escreve discursos do Grande Chefe, é seu conselheiro privilegiado. Mas num país em ebulição, rapidamente cai em desgraça.
Em termos gerais, a história decorre num país pós-colonial, inicialmente cheio de esperança no progresso e no futuro. Mas rapidamente há um desmoronamento social, e é dramático ver o que acontece a todas as personagens. Da esperança passam ao descrédito. A violência, a corrupção, as guerras, rapidamente transformam em tragédia qualquer sonho, por mais básico que seja. A esperança depositada num novo poder político, com traços de iluminismo, rapidamente dá lugar a mais um regime totalitário. Os amanhãs que cantam vestidos de violência, tragédia, cegueira social. Tudo sempre com a melhor das intenções.
Aquilo que associamos normalmente a África aparece nesta obra em todo o seu esplendor. A Curva do Rio é um retrato dramático deste continente mergulhado numa permanente instabilidade e sem perspectivas de uma vida normal. 
(Declaração de interesses: sou manifestamente eurocêntrico).
Pelo tipo de personagens e pelos países que vão sendo citados, percebemos que este país sem nome fica próximo do Corno de África, algures entre a Tanzânia e a Somália.


Fora do âmbito da obra, o que me fez mais comichão no céu-da-boca foi o facto de já estar impresso em versão acordo ortográfico. Se esta alteração passa despercebida em quase todo o texto, há no entanto palavras que chocam. Destaco apenas uma palavra que surge inúmeras vezes e que é intragável: receção (em vez de recepção). Ler isto, e tentar articular de viva voz, é uma aberração.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A Filha Pródiga





Mais um livro deste grande contador de histórias.

Mas o que é deveras fascinante em A Filha Pródiga é a forma como Archer reinventa a história das personagens que nos deu a conhecer em Kane & Abel
para nos contar a história da filha deste último – Florentyna Rosnovski. Apesar de recordamos cada um dos episódios, acrescenta a versão de um novo protagonista, têm de concordar que é de mestre!

Em Kane & Abel testemunhamos um duelo de titãs entre dois homens obstinados em se destruírem um ao outro, em A Filha Pródiga, a luta continua com Florentyna, filha de Abel. Dotada de beleza, de uma personalidade única e principalmente de uma vontade férrea ambiciona apenas uma coisa - ascender ao mais alto dos cargos.


Conhecemos Florentyna ainda criança e desde cedo ficamos com a impressão de que está destinada a grandes feitos, isso é certo, e no final de cada capítulo agarramo-nos a cada palavra como se fosse a última e no entanto há ainda muito para contar. É extasiante!
Se não fosse suspeita, diria que de uma singularidade, Archer consegue montar uma história que muitos diriam conhecer e no entanto lemo-la como se fosse a primeira vez!
A prova de que os filhos continuam a saga desta família singular. Recomendo!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Leituras em greve

Uma das coisas boas de dias como hoje, com greves, é que as longas esperas e demoras dos transportes permitem ler paginas e páginas de livros. 
Hoje, graças a isso, li umas 80 páginas d'A Curva do Rio.

sábado, 5 de novembro de 2011

"O mundo é o que é; os homens que não são nada, que se permitem tornar-se nada, não têm lugar nele."

Começa assim A Curva do Rio, de V. S. Naipaul, cuja leitura estou a iniciar.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

As Serviçais




As Serviçais (The Help), de Kathryn Stockett, fazia parte da minha lista de ‘livros a ler’, uma lista onde registo todos os livros que um dia gostaria de ler. Não fazia ideia do seu sucesso literário ou de que estava para breve a estreia da adaptação cinematográfica.
Como sempre, hesitei entre esperar pelo filme para depois ler o livro ou em começar pelo livro e só depois ver o filme. Acho que aquilo que me levou, desta vez, a começar pelo livro foi o alguém ter dito que a história era hilariante e nos tempos que correm rir não é o melhor mas o único remédio...

Começamos por conhecer Skeeter, que acaba de terminar a faculdade e que regressa a casa para seguir o seu sonho e tornar-se escritora, ainda que tenha de ir contra as convenções da época e os planos da mãe em vê-la com uma aliança no dedo. Através dela, conhecemos Aibileen, a quem pede ajuda e que por sua vez nos apresenta a Minny.Entre elas nasce uma cumplicidade quase imediata, o que leva Skeeter a escrever a história de Aibileen e, depois a de outras criadas que apesar de criarem e amarem as crianças das famílias brancas como se fossem suas, são discriminadas apenas pela cor da sua pele. Estas mulheres são a voz da esperança, da tristeza, do preconceito e da necessidade de mudança.
E, de facto, as suas vidas vão mudar para sempre!
«Talvez não seja demasiado velha para recomeçar, penso, e rio-me e choro ao mesmo tempo. Porque, ainda na noite passada, pensei que já não tinha nada de novo a fazer na minha vida.»

Sobre a segregação racial na América sulista, na década de 60, As Serviçais são um poderoso testemunho de que é possível mudarmos as coisas se tivermos a coragem necessária.
A desfavor só aquilo que se perde na tradução e que inevitavelmente fere o livro nas suas entranhas, é impossível não ficar com a sensação de que falta ali qualquer coisa para determinada frase pulsar de sentido.
Sobre o filme:
A sensação é a mesma do livro, não conseguimos parar a expectativa. No livro, a cada página, o que nos leva a não querer parar de ler, no filme, a cada take, para vermos a adaptação de determinado episódio retratado no livro. Há semelhanças e diferenças, um não é o retrato fiel do outro, o filme retira, enquanto o livro acrescenta, com o filme apenas damos um rosto às personagens que conhecemos intimamente ao longo de cada página. Mas não é o que acontece sempre? De qualquer forma recomendo ambos!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011