terça-feira, 22 de setembro de 2009

O Padrinho de Mário Puzo

Quando se começa um livro, o tempo torna-se relativo. A leitura reveste-se de puro deleite e não deve ser apressada por desígnios menos nobres como a urgência de chegar ao fim, como se a história dependesse deste último capítulo para fazer sentido.
Há livros assim, mas este não é um deles.
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A história é sobejamente conhecida.
Possivelmente já todos viram o filme de Francis Ford Coppola.
Eu ainda não tive esse prazer e por isso não posso dizer se é ou não uma cópia fiel do livro, mas a julgar pelos galardões que recebeu em 1973, um sucesso de bilheteira deve ter sido com toda a certeza.
Sobre o livro:
Começo por destacar a passagem que, quanto a mim, resume a personalidade de Don Corleone: «Não te aborreças e nunca faças ameaças. Argumenta com as pessoas»
Pacientemente, tentava mostrar o outro lado das coisas para fazer o interlocutor mudar de opinião e chegar a um acordo que servisse os seus interesses, claro está. Não havia impossíveis, se as coisas não ficavam resolvidas a bem, acabariam resolvidas a mal, sem olhar a meios para atingir esse fim.
E foi assim que Don Corleone construiu um império.
Tudo se resumia a uma factura que tinha de ser paga. E tudo era um assunto pessoal, fosse qual fosse o serviço.
E não era diferente para Michael Corleone que encarou a tentativa de assassinato do pai como um assunto pessoal. Vinga o pai e torna-se membro activo desta grande Família, mas é obrigado a fugir em seguida para evitar represálias, não evitando contudo a guerra das Famílias de Nova Iorque.
Sonny Corleone toma a rédea das operações enquanto Don Corleone não se restabelece. Mas Sonny não tem a diplomacia do pai e encarar cada situação com pulso de ferro o que só agrava o estado das coisas. Limita-se a reagir impulsivamente. A guerra torna-se sangrenta e todos o temem. Consegue o respeito de todos não há dúvida quanto a isso, mas é um respeito pelo medo e não pela grandeza, esta que valeu ao pai o título de Don. A grandeza de carácter e de princípios. Construiu um império sendo um homem de visão e de talento, podendo ser considerado um verdadeiro génio no que tocava a negócios. E quem não partilhava da sua visão, como a concorrência, era simplesmente convidado a mudar de ideias que é como quem diz convencido das vantagens de o fazer.
Todos aqueles a quem ajudava tinham um propósito para o futuro da organização de Don Corleone – o de consolidar o seu poder. E aqui se vê a diferença em relação a Sonny, exímio soldado de guerra, mas pouco dado a estratégias, necessárias neste cenário.
O mundo passara a ser um lugar seguro para todos aqueles que lhe juram lealdade. E poder um dia retribuir o favor prestado por Don Carleone era motivo de grande orgulho.

Com a morte de Sonny, os acontecimentos mudam de rumo e Don Carleone, entretanto restabelecido, retoma os negócios da Família.
Procura imediatamente cada uma das Famílias na disposição de fazer a paz, pondo de lado o infortúnio da morte do filho. Cada um apresenta as suas exigências e chegam a um acordo que deixa satisfeitas todas as partes.
Contudo, Phillip Tattaglia precisava de uma garantia pessoal da parte de Don Corleone de que não iria vingar a morte do filho ao fim de algum tempo, esquecendo este acordo. Assim, Don Corleone garante perante todos que, enquanto estiver à frente das acções da sua Família, nada irá fazer para vingar a morte do seu filho, sacrificando assim os seus interesses na defesa do bem comum.
Mas...a vingança é um prato que se serve frio ...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Desafio

Um blogue.
Um livro.
Dois leitores mais ou menos compulsivos.
Duas leituras paralelas.
Resultado?
Em breve... palavras impressas aqui.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O velho que lia romances de amor

É um livro cujo título é muito mais poético que o seu conteúdo.
Prenda de aniversário (ou seria de Natal...?), num 10 de Dezembro de 2000, de uma pessoa muito especial, na altura devorei-o em apenas dois dias! Ainda hoje, volvidos tantos anos, não contenho o sorriso de cada vez que leio a ternurenta dedicatória…

Indo à história…
A história começa com um dentista carniceiro… que pouco contribui para a ecologia do romance. Apenas, em breves linhas, será um fornecedor de romances de amor para o velho.
“António José Bolívar ficou com todo o tempo para si mesmo, e descobriu qee sabia ler ao mesmo tempo que lhe apodreciam os dentes.”
Aos poucos, vai entrando António José Bolívar Proaño, o tal velho… É a sua história, em leves penadas, que liga as poucas páginas deste livro de Luís Sepúlveda.
Ainda jovem, emigra com a sua mulher, que pouco depois morre. Sozinho, o velho vai viver com os índios xuar. Volvidos uns anos, volta à sua aldeia, El Idilio.
Ele, o velho, é como que um elemento pacificador.
Ele senta-se com a chuva lá fora e vai folheando romances.
O velho lê como quem faz um puzzle, junta letras e palavras até lhes compreender o sentido.
“António José Bolívar Proaño dormia pouco, Quando muito, cinco horas de noite e duas à sesta. Bastava-lhe isso. O resto do tempo, dedicava-o aos romances, a divagar acerca dos mistérios do amor e a imaginar os lugares onde aconteciam as histórias.”
Um dos elementos centrais deste romance é uma luta com uma animal desconhecido. Quase como “O velho e o mar”. Uma luta entre um animal ferido no seu sentimento, uma onça fêmea a quem um gringo matou o macho. A onça empreende uma vingança contra os habitantes de El Idilio. Uma luta desigual perante a dor.
Só o velho, por ter vivido cm os índios xuar, conhece os segredos da floresta e dos seus animais, compreendo-os e sabendo jogar com eles.

O romance que o velho andava a ler começava assim:
“Paul beijou-a ardorosamente eanquento o gondoleiro, cúmplice das aventuras do amigo, fingia olhar noutra direcção e a gôndola, equipada com macios coxins, deslizava tranquilamente pelos canais venezianos.”

E ele, o velho, perguntava-se o que era uma gôndola; porque a cidade tinha água e não estradas; o que era “beijar ardorosamente”, pois nunca o tinha feito com a sua mulher; e julgava o cúmplice das aventuras…

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O Poder da Inteligência Criativa

Com o verão veio a leitura de alguns livros de “crescimento interior”, digamos assim.
Com “O Poder da Inteligência Criativa” (de Tony Buzan) aprendemos a utilizar todo o potencial da nossa mente.
Como forma de enquadramento, o autor leva-nos numa viagem pelo desenvolvimento do conhecimento sobre o cérebro nas última décadas.
Normalmente dividimos o cérebro em hemisfério esquerdo e hemisfério direito, associando determinado tipo de capacidades a cada um dele. Enquanto ao hemisfério esquerdo associamos a lógica (palavras, lógica, números, ordem, linearidade, análises, registos), ao hemisfério direito associamos emoções (ritmo, localização espacial, dimensão, imaginação, fantasias, cor, sensibilidade ao sagrado).
Mas…. Os cientistas descobriram que esta divisão não é estanque. Os dois hemisférios comunicam, e o desenvolvimento de um hemisfério para o qual temos “menos jeito” acaba por influenciar o outro e ambos passarem a um outro patamar de interacção e desenvolvimento. Ou seja, não se podem compartimentar pessoas “intelectuais” de um lado e “emocionais” do outro. “Os lados esquerdo e direito do cérebro tinham entrado em “diálogo” um com o outro."
Ao longo de todo o livro, o autor vai deixando exemplos e exercício práticos.
As capacidades do cérebro devem ser utilizadas permanentemente!
Sair da rotina, usar uma mão que normalmente não usamos, desenhar, desenvolver ideias a partir de uma palavra (por exemplo, associar cinco palavras a uma inicial; depois associar mais cinco a cada uma destas…), fazer anotações coloridas…

Um dos conceitos fundamentais neste livro: Mapas Mentais. Basicamente, é aquela associação de palavras e ideias que referi acima. Graficamente, acaba por ser aquilo que todos nós fazemos quando estamos ao telefone com uma folha à frente… no final da conversa, a folha branca está toda riscada.

Voltando um pouco atrás, Tony Buzan defende que todos – sim, todos! – somos artistas: desenhamos bem, cantamos bem, escrevemos poesia bem, produzimos muitas ideias. Apenas fomos sendo inibidos no nosso processo de educação com as respostas negativas, os “não tens jeito para isso”…
O segredo dos criativos famosos (Einstein, Edison, Shakespeare, Da Vinci…) era a sua atitude perante o fracasso.
Por exemplo, Thomas Edison, no processo de desenvolvimento da lâmpada incandescente, criou milhares de objectos estranhos. “Edison realizou nove mil experiências até chegar à lâmpada incandescente, e mais de cinquenta mil até inventar os acumuladores.” A maior parte dos modelos que desenvolveu eram rejeitados por si mesmo, mas eram encarados como “um louvor à sua dedicação à experiência, ao risco e à tentativa persistente até ter encontrado o que procurava.”
“Por exemplo, quando um dos seus assistentes lhe perguntou por que é que, apesar de já ter fracassado milhares de vezes, continuava a insistir em tentar descobrir um filamento que durasse mais tempo na sua lâmpada incandescente, Edison respondeu-lhe calmamente que ainda não tinha fracassado uma única vez! O que ele tinha feito fora descobrir milhares de coisas que não funcionavam, no inevitável caminho para a descoberta daquela que funcionava.”

O capítulo dedicado à flexibilidade criativa e originalidade pareceu-me bastante interessante. O cérebro é como o corpo: se o movimentarmos, a flexibilidade aumenta e podemos fazer mais coisas. Para isso é necessário:
- ver as coisas sob perspectivas diferentes;
- estabelecer associações criativas;
- inverter as situações
“Se assim o fizer, é óbvio que se tornará numa pessoa diferente, com mais carácter próprio, mais fora do normal, mais original e única. Tornar-seá uma pessoa a quem os outros se referirão como especial, criativa e, até mesmo, como um génio!”

Associar ideias, não impor barreiras aos pensamentos, ter a liberdade das crianças a brincar…
Foi assim que Einstein chegou às suas teorias sobre o universo: ainda estudante, “imaginou estar na superfície do Sol, e daí partir num raio solar, à velocidade da luz e em linha recta, até chegar ao fim do universo.
Qual não foi o seu espanto quando, ao chegar ao “fim” da sua viagem, reparou que estava praticamente no sítio de onde tinha partido”. Parecia impossível. Mas foi assim que concluiu que “se ao viajarmos em linha recta “para sempre” voltarmos continuamente à área de onde partimos, então “para sempre” tem que significar pelo menos duas coisas: o universo será de algum modo curvo e possuirá um limite.”

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Marginália e as suas leituras de Verão

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Fui de férias com:

e assisti ao drama de uma mãe que vê o filho partir, ao drama de quem vê subitamente o seu mundo acabar.
O livro relata-nos uma bonita história de amor entre dois amigos, uma leitura comovente e ao mesmo tempo envolvente. Coloca-nos em cena e imediatamente sentimos que a história nos pergunta: "arriscaria tudo por amor?"
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Partilho aqui um trecho que li com duplo deleite:
«Quero que saibas que estou bem.
Sim, tu.
Agora que ouviste a minha história, podes pensar que ainda estou naquele lugar cheio de dor e tristeza, mas não estou, a sério. Por favor, não te preocupes comigo. (...)
Vivemos numa vila perto de Braga, em Portugal, e dou aulas privadas de Inglês, de preparação para os exames. Sei que algumas pessoas na vila me descrevem como a inglesa preta de sorriso grande e olhos tristes.
Por isso, como vês, posso sorrir novamente.»
(a descrição é bem ao estilo português!)
Estou agora em posição de dizer: não há nenhum como o primeiro e, de entre os três, o que mais me fascinou foi "a filha da minha melhor amiga".
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Há depois livros que temos o prazer de ler porque o acaso assim quis. Foi o que aconteceu com "O Segredo da Bastarda".

O tempo tardava em passar e enquanto não chegava a hora de apanhar o comboio rumo ao interior quente e a umas merecidas férias, passei numa tenda que por acaso tinha livros e que, por acaso também, tive vontade de trazer todos. Nunca um espaço tão reduzido concentrou tantos títulos interessantes e a verdadeiro preço de Feira.
Sobre o livro:
"Cristina Norton brinda-nos com um romance histórico notável, onde o rigor convive com um humor e uma legibilidade capazes de prender o leitor até à última página." Concordo. A forma como nos dá a conhecer um pouco da nossa história é de mestre, sem maçar consegue cativar-nos da primeira à última página e verdade seja dita, as aparições da madrinha de baptismo de Eugénia são verdadeiramente hilariantes.
Sobre a história:
Eugénia Maria viaja com a filha Isabel, vítima de tuberculose para a ilha da Madeira em busca de alguma esperança para a condição da filha que a cada dia parece mais fraca e sem sinais de melhoras. Para a animar, a mãe resolve contar-lhe o segredo da sua paternidade.
Toma-nos pela mão e conduz-nos através da corte de D. João VI, que sua mãe - Eugénia de Menezes, conhecia bem na qualidade de aia da princesa Carlota Joaquina.
Assistimos às suas paixões e à sua obediência cega a Deus e à coroa. E como em prol desta é obrigada a abandonar o Paço e a viver em conventos, escondendo a sua desgraça.
O sofrimento da mãe chega finalmente ao fim através da redenção divina que vem apaziguar um coração dilacerado pela tristeza e pela perda do amor paternal que tanta falta lhe fazia.
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Há livros que vêm parar às nossas mãos porque ELES decidiram que já era tempo.
A sua leitura surpreende-nos por não estarmos à espera da riqueza de palavras, o que os torna ainda mais especiais...
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Voltei com "O Padrinho" de Mário Puzo, mais um feliz achado. Mais impressões? Talvez nos próximos dias.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009