segunda-feira, 28 de junho de 2010

Saldos de Verão ...


... para os amantes da literatura, na Feira do Livro, de 26 de Junho a 11 de Julho, no Mercado da Ribeira.

domingo, 20 de junho de 2010

A Papisa Joana

Este primeiro romance de Donna Wollfolk Cross agarra a vida desta personagem histórica ou lendária e dá-lhe contornos de aventura e romance, construindo um livro muito interessante.
Desde o seu nascimento, no seio de uma família constituída por um rígido cónego inglês, pela mãe saxónica, Gudrum, convertida à força ao catolicismo, e ainda dois irmãos mais velhos, Mateus e João, Joana teve de lutar para poder afirmar-se. De feitio firme, com uma perspicácia e inteligência mal vista por muitos, ela foi crescendo, tendo uma educação rara entre as mulheres do seu tempo (às quais era vedada a instrução). Aprendeu a ler, secretamente, com o seu irmão Mateus. Depois teve a sorte de contactar com o grego Asclépios, que passou a ser seu tutor contra a raiva do pai.
Os anos passam, entre inúmeras peripécias improváveis, e Joana vai aprendendo ainda mais. Torna-se uma espécie de médico, conhecedora dos efeitos de inúmeras ervas e ingredientes.
Numa época de profunda misoginia, uma vez que a mulher é o símbolo do pecado e do mal, Joana percebe que só conseguirá realizar-se como homem. Por isso, passa a viver sob disfarce como João Anglicus, um monge que mantém as suas características pessoais: inteligência, perspicácia, insubmissão, espírito aberto à novidade.
Joana – ou João… - vai parar a Roma, onde acompanha dois papados de perto e vive bem de perto com toda a intriga e jogos de poder que rodeiam o topo da Igreja Católica. Também é vítima dessa teia, mas sabe jogar com as circunstâncias… e, sem ser vontade sua, acaba no trono de Roma.

No fim, o livro traz ainda uma espécie de enquadramento histórico de factos que confirmam a existência deste Papa, que afinal foi Papisa.
“Em 1276, depois de ter ordenado uma investigação aturada dos registos papais, o Papa João XX mudou o seu título para João XXI, reconhecendo oficialmente o reinado de Joana como Papa João VIII.”

De contornos historicamente imprecisos, quer por acção da própria Igreja, que os eliminou, quer por se tratar apenas de uma lenda, a curiosidade sobre quem foi a Papisa Joana permanece.

Outra resenha aqui.

sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago

Com o desaparecimento de Saramago perde-se um grande escritor.
Sempre apreciei a sua obra. Descobri-o um ano antes do Nobel, através de “Ensaio sobre a Cegueira”.
A sua escrita muito própria, de longos parágrafos e muitas vírgulas, não representou uma dificuldade. Pelo contrário, era uma continuidade, uma história contada sem pausas. De tirar o fôlego. A mim, agarrava-me.
Este livro que me permitiu descobrir um grande escritor, está entre os meus preferidos. Ali ao lado de “Cem Anos de Solidão”, por exemplo.
Depois deste magnífico livro-metáfora, fui lendo quase tudo: “O Memorial do Convento” (que não me pareceu maravilhoso), “As Intermitências da Morte”, “Ensaio sobre a Lucidez”, “Todos os Nomes”, “A Caverna”, “O Homem Duplicado”, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (uma fabulosa interpretação da vida de Jesus), “A Jangada de Pedra”… faltam-me os dois últimos: “A Viagem do Elefante” e “Caim”. E talvez alguns mais antigos.
Como escritor, é genial. Normalmente parte de um absurdo e cria um romance sólido e perfeitamente possível. Ainda o ano passado reli “Ensaio sobre a Cegueira” e mantive a opinião de que se trata de uma obra maior da língua portuguesa.
Politicamente, Saramago não me agrada. Sou do lado oposto, e nunca compreendi a forma como ele defendia ditaduras até ao limite. Basta olhar para Cuba. Politicamente, o comunista Saramago era o que a ideologia é: intolerante, totalitária, anti-democrático.
Sempre polémico, facto é que Portugal perdeu um grande escritor e contador de histórias.