sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ser surpreendido

Quem gosta de pequenos contos, de traços inesperados e surpreendentes, tem aqui este livro:


"Minimalistas, fantásticas, provocadoras, estas quarenta e oito "histórias-clip" de Etgar Keret são outros tantos mergulhos num universo literário inédito. Escritas em estado de urgência, de respiração suspensa, elas brincam com a verosimilhança, fazem explodir as deixas esperadas, confundem as pistas, e a sua temível brevidade só as torna mais aptas para abraçar o inquietante absurdo de um mundo à deriva."

Etgar Keret é um romancista israelia, autor de BD e realizador.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A Cura de Schopenhauer

Inicialmente, temos a trágica notícia para Julius: tem um melanoma, em fase terminal. Confrontado assim com o fim próximo, ele, psicoterapeuta, decide procurar um antigo paciente com o qual não teve sucesso. Philip, que agora também é psicoterapeuta, numa troca de favores, aceita participar no grupo que Julius está a acompanhar, como paciente.

Aqui a questão que surge é sobretudo a solidão, o isolamento social, o que se esconde naquilo que se parece mostrar aos outros. Philip, inteligentíssimo e distante, especialista e fã de Schopenhauer, passa o tempo a citar as suas frases anti-sociais. De notar que Philip, anteriormente, foi um viciado em sexo, que todas as noites tinha de ter uma nova conquista e aventura.

Paralelamente, o autor recua 150 anos e vai-nos relatando a vida do filósofo, também um anti-social, com atitudes de superioridade, de ser de outro mundo. Um homem angustiado com a vida (pensa-a como sendo um interregno na não-existência, com dois pontos em que se separa desta: o nascimento e a morte), e que tem uma vida pobre de relacionamentos, tentando afastar-se daqueles que chama desprezivelmente de “bípedes”.

No centro do romance, os vários pacientes da psicoterapia, de uma ou outra forma, por um ou outro motivo, deixaram de acreditar no outro, são pessimistas na forma como encaram as relações com os outros. Quem é o outro? Quais as suas reais intenções? Não é melhor fechar-me num castelo-fortaleza, inacessível seja a quem for? Quem sou eu por detrás desta carapaça? O que tenho medo de mostrar, até para mim mesmo? Mas neste enquadramento emerge uma realidade comum a todos: a falta de afecto, a incapacidade de relacionar-se.

Alguma resignação – ou melhor, sentimento de impotência – perpassa ao longo das páginas em que as sessões de psicoterapia acontecem.
O atravessamento da ponte, da barreira até ao mais íntimo de cada um, só acontece pela fragilização individual, pelo choque, pelo dar um passo em frente. Os diálogos são violentos, agressivos, no sentindo em que vão mexer no baú das vivências de cada um.

Philip, Pam, Tony, Bonnie, Rebecca, Gill, Stuart... e Julius. Problemas de isolamento, de relacionamento, de afecto, de alcoolismo, sexuais... que vão sendo esmiuçados em conjunto, tentando novas abordagens. As relações que se vão estabelecendo entre eles, as tensões, os gritos, vão permitir que cada um deles olhe para dentro de si e encontre a peça chave que desarmadilha o edifício em que estão prisioneiros. E quando começam a descer as barreiras, a ficar mais dóceis interiormente, dá-se o click.

Em certa medida, é um livro sombrio, pois agarra a condição humana em aspectos menos positivos da vida: “a morte, a solidão, a falta de sentido da vida e o sofrimento a ele inerente” (pág. 197). E a cada página lida, apesar da procura de uma escapatória a este ambiente, o clima parece que se adensa, numa espécie de nevoeiro que oculta o caminho.

“A Cura de Schopenhauer” é um interessante contraponto ao outro romance de Irvin D. Yalon, e que li há um ano e meio: “Quando Nietzsche Chorou” (ver as minhas breves impressões aqui e aqui).

Ambos são livros profundamente psicológicos e que fazem viagens profundas ao interior de cada um.
Como ponto comum aos dois livros, essa procura no mais profundo de cada um, extraindo as forças para continuar a andar, para olhar o futuro.
Por outro lado, enquanto “Quando Nietzsche Chorou” é mais positivo, foca muito a amizade, este “A Cura de Schopenhauer” centra-se nas disfunções relacionais, nas incapacidades para fugir ao isolamento e relacionar-se.

Inicialmente a leitura de “A Cura de Schopenhauer” deixou-me de pé atrás. Mas, a partir de certa altura, fui sugado pelo enredo e li convulsivamente para saber a “solução”. E muitas interrogações ficaram na minha cabeça, para mim. Foi como olhar ao espelho, sem filtros, sem maquilhagens. O abalo com epicentro interior é forte!

E fica um desafio para mim daqui a algum tempo: ler as duas obras sequencialmente. Se calhar será um abalo muito forte. Mas igualmente um desafio gigantesco numa perspectiva individual.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Notável página na História

A eleição de Barack Obama como presidente dos EUA fica como uma importantíssima página na História.
O inspirador discurso deste afro-americano levou-o à Casa Branca.
Um discurso positivo, afirmativo, mobilizador, carregado de esperança. Para além dos paradigmas estabelecidos em Washington.
Possam as próximas páginas ser tão notáveis e históricas como as escritas até agora.

Do seu notável discurso de vitória, em Chicago, destaco estas passagens:

"
E a todos aqueles que se interrogavam sobre se o farol da América ainda brilha com a mesma intensidade: esta noite provámos novamente que a verdadeira força da nossa nação não provém do poder das nossas armas ou da escala da nossa riqueza, mas da força duradoura dos nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e uma esperança inabalável."

"Este é o nosso tempo para pôr o nosso povo de novo a trabalhar e abrir portas de oportunidade para as nossas crianças; para restaurar a prosperidade e promover a causa da paz; para recuperar o sonho americano e reafirmar aquela verdade fundamental de que somos um só feito de muitos e que, enquanto respirarmos, temos esperança. E quando nos confrontarmos com cinismo e dúvidas e com aqueles que nos dizem que não podemos, responderemos com o credo intemporal que condensa o espírito de um povo: Sim, podemos."

(discurso completo aqui)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Dewey

“Que influência pode um animal ter? E quantas vidas pode um animal tocar? Conheça a maravilhosa história do gato que comoveu o mundo!”

Eu fiquei comovida logo nas primeiras páginas...mas também no que toca a gatos, como é possível não ficar?