sábado, 4 de abril de 2009

Dez Discursos Históricos

Que Obama tem o dom da palavra, já todos o sabemos. E nem é só o dom da palavra. É, sim, aquele jeito sincopado de falar que nos embala.
Enquanto lia este livro, ouvia a voz de Obama a discursar. E era uma energia positiva bebida pelos olhos. Quando lia a caminho do trabalho, parece que ficava com super-poderes e que tudo só podia correr bem.
A magia do actual presidente americano advém da sinceridade que transmite, da sensação de tudo ser possível, da capacidade de quebrar os padrões habituais e olhar mais além.
Neste conjunto de discursos Obama fala de esperança, de futuro, da guerra, da questão da raça, de patriotismo, de união, do legado de Martin Luther King…

Há coisas que Obama repete em todos os discursos (não fosse um político) e há ideias recorrentes, envoltas sempre num embrulho aparentemente diferente, que visam inspirar. Por exemplo, em cada parágrafo transpira a ideia que as coisas não são como os outros as fazem, e que não há apenas dois lados das questões. Não há só o “a favor” e o “contra”, o preto e o branco… há todo um arco-íris de possibilidades que pode e deve ser explorado. E é nessa porta de possibilidades que ele incute o desejo de fazer um caminho diferente do habitual, olhando sempre para além do que parece já estar decidido. É preciso quebrar os limites do horizonte.
Frequentemente brada contra os “cínicos” que dizem não ser possível. Ele diz sempre que há um outro caminho, que há esperança, que no passado já se fizeram grandes coisas, pelo que agora também é possível.

No discurso da vitória, em Chicago (4 Nov 2008), diz: “Porque este é o verdadeiro génio da América: a capacidade de mudar. A nossa união pode ser aperfeiçoada. E aquilo que já conseguimos enche-nos de esperança para quilo que podemos e devemos conseguir amanhã.”
E ainda: ”Esta é a nossa oportunidade de respondermos a esses desafios. Este é o nosso momento. Este é o nosso tempo – o de regressarmos ao trabalho e abrirmos as portas da oportunidade aos nosso filhos; de restaurarmos a prosperidade e promovermos a causa da paz; de reclamarmos o sonho americano e reafirmarmos esta verdade fundamental: a de que, sendo muitos, somos um só; e que, enquanto houver vida, há esperança; e que, quando enfrentarmos o cinismo, a dúvida e aqueles que nos dizem que não podemos, havemos de responder com aquele grito intemporal que resume o espírito de um povo: Sim, nos podemos.”

No “Discurso sobre a raça” (Filadélfia, 18 Mar 2008), diz: “Decidi candidatar-me à presidência neste momento da História porque acredito firmemente que não conseguiremos resolver os desafios do nosso tempo se não os resolvermos juntos; se não aperfeiçoarmos a nossa união através da compreensão de que podemos ter histórias diferentes, mas as nossas esperanças são comuns; de que podemos ter aparências muito diferentes e não ter tido a mesma proveniência, mas queremos ir todos na mesma direcção; a de um futuro melhor para os nossos filhos e netos.”
Ou, mais adiante, uma grande frase unificadora: “Isto exige que todos os americanos percebam que a realização dos sonhos de uns não tem de ser feita à custa dos sonhos dos outros;”

No início da campanha para a nomeação democrata, Obama é vencido por pouco em New Hampshire por Hillary Clinton. Nessa noite (8 Jan 2008), surge o grande slogan da campanha “sim, nós podemos”: “Mas, ao longo da improvável história da América, a esperança nunca foi uma coisa falsa. Porque quando enfrentámos situações aparentemente impossíveis; quando nos disseram que não estávamos prontos, ou que não devíamos tentar, ou que não íamos conseguir, gerações de americanos responderam com o credo que resume o espírito de um povo: Sim, nós podemos.”

Quando, a meio da campanha, começou a ser posto em causa o seu patriotismo, Obama volta a olhar em frente e, no Missouri (30 Jun 2008), afirma: “aprendi que o que fez a grandeza da América nunca foi a sua perfeição, mas a crença de que se pode sempre torná-la melhor. Cheguei à conclusão de que a nossa revolução foi desencadeada em nome dessa crença – a de que podíamos ser regidos por leis, e não por homens; de que podíamos ser iguais aos olhos dessas leis; de que podíamos ter liberdade de dizermos o que quiséssemos, de nos associarmos com quem quiséssemos e de rezamos como bem entendêssemos; de que podíamos ter o direito de tentar realizar os nossos sonhos, mas que temos a obrigação de ajudar os nossos concidadãos a realizar os seus.”
Ainda no mesmo discurso: “é esta a ideia essencial da América – a de que não estamos presos pelas circunstâncias do nosso nascimento, e podemos fazer das nossas vidas o que quisermos”
E finaliza: “Essa é a liberdade que defendemos: a liberdade de cada um ir atrás dos seus sonhos. Essa é a igualdade a que aspiramos: não uma igualdade de resultados, mas a oportunidade de cada um de nós ter sucesso, se tentar. Essa é a comunidade que lutamos por criar – uma comunidade em que confiamos, nesta nossa por vezes caótica democracia; em que continuamos a insistir em que não há nada que não possamos fazer quando nos dispomos a isso; na qual nos revemos como fazendo parte de uma história mais vasta, em que o nosso destino se envolve com o destino daqueles com quem partilhamos a fidelidade ao feliz e singular credo da América.”

Em Berlin (24 Julh 2008), recordando a História que marca a cidade, foi mais uma vez inspirador: “Povo de Berlim, povos do mundo: este é o nosso momento. Esta é a nossa hora. (…) Aquilo que sempre nos uniu – aquilo que sempre inspirou o nosso povo, aquilo que atraiu o meu pai às costas americanas – é um conjunto de ideais que vão de encontro às aspirações de todas as pessoas: a possibilidade de vivermos sem medo e sem privações, de podermos dizer o que pensamos, reunir com quem quisermos e rezar como bem entendermos.”
E encerra: “Povo de Berlim, povos do mundo: é grande a dimensão do nosso desafio. O caminho que temos pela frente vai ser longo. Mas apresento-me perante vós para dizer que somos herdeiros de uma luta pela liberdade. Somos um povo de esperança improvável. Como os olhos no futuro, com determinação nos nossos corações, lembremo-nos da história desta cidade, respondamos ao nosso destinos e refaçamos, uma vez mais, o mundo.”

Não ficaram com uma força enorme e com a crença de que, sim, é possível mudar?

Frases simples, esperança, olhar sempre para além das pequenas questiúnculas, ultrapassar pequenas divisões e focar o que une, não o que separa.
Pena que na Europa não haja políticos capazes de inspirar desta maneira. (Dou de barato que nenhum destes discursos passava em qualquer país europeu. Devido ao peso da História que temos aos ombros, à força dos cínicos, à dificuldade em olhar mais além).

Este é, sem qualquer dúvida, um inspirador livro de cabeceira.

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