segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Slam - a vida como ela é


Inesperadamente este Natal trouxe-me o livro “SLAM - a vida como ela é”, de Nick Hornby. A capa diz ser um bestseller internacional... fiquei a saber.

Na contracapa, e segundo o Observer, “Hornby pega nas ironias cruas da vida e raspa-as docemente para revelar jóias de verdade amarga e doce"... Fiquei curioso.


Este romance (quase diria uma série juvenil) acompanha a vida de um adolescente de 15 anos, em Londres, durante alguns meses. Trata-se de um jovem skater, como todos os jovens e como nós já fomos um dia: descontraído, sem cadeias, irresponsável, “estúpido” como ele mesmo não se cansa de repetir, sem nada que o preocupe na vida. Ele tem no quarto um poster de Tony Hawk, um skater famoso que ele admira e com cujo poster conversa (não apenas fala).

O Sam tem pensamentos e respostas típicas de adolescentes: parvos, sem dramas de maior, egocêntrico, irreverente, idiota, por vezes manipulador. Mas simultaneamente inocente e ternurento.

Um certo dia, ele acompanha a jovem mãe (de 32 anos) a uma festa de uma colega desta e conhece Alicia. Filha da aniversariante, e tão miúda como ele. Apaixonam-se. E o “inesperado” acontece: ela engravida.

A forma como encara este facto é absolutamente mirabolante, com uma sucessão de episódios alucinantes: ele consegue ser transportado para o futuro e ver o que o espera (ainda mais cómico na medida em que todas as outras personagens estão plenamente integradas nesse futuro, menos ele, que não sabe nomes ou factos que os outros já sabem); e chega até a fugir para uma cidade próxima de Londres, onde tinha passado um verão.

Em cada linha é evidente que este adolescente não compreende completamente o mundo que o rodeia. Baralhado, não sabe como reagir aos factos, não os sabendo interpretar de todo. Basta ver o tipo de respostas ou comentários que só ele consegue ter…

Sam é ao mesmo tempo personagem e narrador, o que dá à história uma roupagem muito interessante. Como ele próprio diz a certa altura, o que dá interesse às histórias são os sentimentos que os ligam, são o que os factos nos fizeram sentir. Porque a história pode ser contada em poucas linhas e ficar sem qualquer tipo de interesse. A diferença está nas sensações que nos provocou. E é isso que nos agarra neste romance, pois é como se estivéssemos dentro da cabeça do Sam, a ler-lhe todos aqueles desconcertantes pensamentos. Certeiros, divertidos, parvos.

Por exemplo, quando o filho nasce, no hospital, a mãe dele procura o neto. Pensamento do jovem pai: “os seus olhos varriam o quarto em busca de uma trouxa que pudesse ser um bebé. Acabou por encontrar essa trouxa ao meu colo, e arrancou-ma das mãos”. Isto é divinal!

Abordando a gravidez adolescente em Inglaterra (às tantas, sobre um relatório do primeiro ministro acerca disso, ele tem uma série de tiradas genialmente bem-humoradas), este romance traça um retrato divertido dessa situação, pegando nesta família e dissecando o que cada personagem representa (os jovens inconscientes, a mãe que passou por um caso semelhante, os pais que sonham com um grande futuro para a filha, a filha que quer um futuro normal, o pai “gajo” irresponsável, os jovens skaters…).

Há muito que não lia um livro assim "de enfiada". Pouco mais de uma semana para devorar a mirabolante história de Sam, por ele mesmo. Não será uma obra-prima, mas é divertido. E aborda esta problemática de uma perspectiva interessante.

1 comentário:

Anónimo disse...

Comecei ontem à noite a ler este livro. Li apenas o início do post para não deixar de ficar surpreso depois de o ler, e durante a leitura. Mas pelo que percebi, é um bom livro de que vale a pena ler. Mas tal como penso, não há livros maus. Todos têm algo a ensinar-nos.