terça-feira, 2 de outubro de 2012

Milagrário Pessoal

"Iara, jovem linguista portuguesa, faz uma incrível descoberta: alguém, ou alguma coisa, está a subverter a nossa língua, a nível global, de forma insidiosa, porém avassaladora e irremediável. Maravilhada, perplexa e assustada, a jovem procura a ajuda de um professor, um velho anarquista angolano, com um passado sombrio, e os dois partem em busca de uma colecção de misteriosas palavras, que, a acreditar num documento do século XVII, teriam sido roubadas à “língua dos pássaros”. Milagrário Pessoal é um romance de amor e, ao mesmo tempo, uma viagem através da história da língua portuguesa, das suas origens à actualidade, percorrendo os diferentes territórios aos quais a mesma se vem afeiçoando.” 

No fim, nem tudo é como parece ser… 

Uma das coisas que mais gostei neste livro, tal como noutros que já li do José Eduardo Agualusa, é ser embalado pelas palavras. Agualusa tem a arte de fazer magia com as palavras, levando-nos a territórios inesperados e que, recorrentemente, deixam um sorriso nos lábios. 

Por exemplo: 

“Me permita que lhe apresente Plácido Domingo! Este aqui não sabe cantar, não. Ainda assim eu o acho mais legítimo que o tenor. Ele é tão plácido e tão domingo que sempre que nos visita parece que o tempo abranda. A gente se esquece das horas.” 

“Os milagres acontecem a cada segundo. Os melhores costumam ser discretos. Os grandes são secretos.” 

“O que é a pátria?, perguntou. A voz era cálida e melodiosa como a de um hipnotizador. Uma pátria pode ser um cheiro. Um buquê de cheiros. Pitangas, terra molhada, o capim macerado. 
Ou um verso, acrescentou Alexandre Anhanguera, um simples verso. Há versos onde cabe inteira a minha pátria.” 

“Também eu cresci dividido entre a sala de estar e o quintal. Dividido? Escrevi dividido? Perdão, por vezes distraio-me e erro um pouco. Permitam-me que corrija: cresci acrescentado entre a sala de estar e o quintal.” 

“Difícil é um homem encontrar uma mulher diante da qual todas as restantes pareçam uma redundância.” 

Ao longo deste pequeno romance, vamos mudando de registo linguístico. Ora estamos no português de Portugal, ora vamos ao Brasil, ora estamos em Angola. Estas mudanças nas palavras e nas frases são um exercício muito enriquecedor e curioso. 

Adquiri este livro na feira do livro deste ano, onde tive oportunidade de pedir um autógrafo ao José Eduardo Agualusa. Um homem de uma simplicidade e simpatia assinaláveis.
Podem ler uma entrevista ao autor a propósito deste livro no Porta-livros.

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