quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os Pilares da Terra (comentários revistos)

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Ouvi falar de Ken Follett e Os Pilares da Terra há uns anos através de uma colega que andava constantemente com o livro debaixo do braço, aproveitando todas as pausas para ler mais umas páginas. Não fiquei suficientemente empolgada na altura para começar a ler o livro pelo que ficou esquecido... (percebo agora que há livros que não temos necessariamente de ler)
Voltei a ouvir falar nele quando anunciaram a transmissão televisiva de uma mini-série de 8 episódios baseada no romance homónimo de Ken Follett, numa produção que diziam ser das maiores produções televisivas de todos os tempos, a cargo de Ridley e Tony Scott.
Conseguiram despertar a minha curiosidade e decidi que havia de ler o(s) livro(s) antes de ver a série, mas após ter lido mais de 900 páginas, chego à triste conclusão que este é um daqueles livros em que mais vale ver a série/filme que ler o livro, talvez a desilusão não fosse tão grande.

Como havia referido, fiquei surpreendida logo nas primeiras páginas quando tomo conhecimento que Ken Follett é mestre do policial e nos confessa que embarcou nesta aventura do romance histórico sem a certeza de ser bem sucedido e no final a sua agradável surpresa quando o livro se torna num dos livros mais lidos em todo o mundo! E diz quem leu, com o dom de a cada novo romance surpreender o leitor com um novo thriller, e embora num estilo completamente novo para ele, conseguiu o mesmo efeito e com a mesma mestria.
Não posso concordar...
Depois daquilo que considero uma introdução com mais de 500 páginas, chego ao fim do primeiro volume sem qualquer entusiasmo para continuar a ler. Os momentos mais marcantes da narrativa são talvez os protagonizados por Aliena e pouco mais. Não me senti tentada a conhecer o desfecho da história e não fosse a máxima de não deixar livros a meio, teria desistido ao fim das primeiras 200 páginas do segundo volume. Não me senti definitivamente envolvida emotivamente pelas personagens, não tive medo por elas, não sustive a respiração quando elas se viram em apuros, não rejubilei quando tudo acabou bem....
No segundo volume, a falta de tacto em relação a alguns pormenores é ainda mais flagrante. Deixo-vos um exemplo: assim sem motivo aparente, Aliena resolve que vai deixar Jack porque se cansou de esperar pela anulação do seu casamento com Alfred. Apenas algumas páginas volvidas, a questão fica resolvida porque Alfred morre e ela fica viúva para casar finalmente com Jack. Se o objectivo deste pequeno subterfúgio era fazer com que o leitor sentisse a infelicidade de Aliena, na minha opinião foi muito brusco na tentativa de levar avante a sua intenção. Tem de haver um trabalho prévio antes de introduzir um acontecimento que envolva directamente uma das personagens mais importantes.
As descrições:
Demora-se em descrições que nada acrescentam à narrativa (luta entre um urso e vários cães, confesso que tive de passar estas páginas à frente dada a brutalidade do episódio), e descura aquelas que são verdadeiramente importantes: os sentimentos de William Hamleigh no último instante antes de ver o seu fim e os de Aliena ao ver o fim do homem que mais odiou na sua vida. As mesmas descrições, os mesmos adjectivos aplicados a determinadas personagens ao longo de toda a narrativa.

As personagens:
Conhecemos o fim de todos menos o de Martha - a irmã de Alfred, que desaparece subitamente da história sem qualquer explicação. Morreu? Casou?
A morte de Becket, uma personagem secundária que, comparativamente, tem direito a muito mais detalhe, simbolismo, ditando mesmo o final do livro.
À medida que avançamos para o final, os saltos cronológicos são de gigante e Follett faz várias (excessivas) referências à idade de Philip, que envelhecesse precocemente, possivelmente para acentuar a velocidade a que os acontecimentos se desenrolaram até ali.
Finalmente:
Depois de ler Mario Puzo, Jeanne Kalogridis, Philippa Gregory ou Steve Berry não posso definitivamente conferir a mesma mestria a Ken Follett no que ao romance histórico diz respeito. Eu teria reduzido a história dos dois volumes a pouco mais de 500 páginas, deixando em aberto o que ainda poderia acontecer depois de estas personagens desaparecerem e o efeito teria sido definitivamente diferente.

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