
Etgar Keret é um romancista israelia, autor de BD e realizador.
Aqui a questão que surge é sobretudo a solidão, o isolamento social, o que se esconde naquilo que se parece mostrar aos outros. Philip, inteligentíssimo e distante, especialista e fã de Schopenhauer, passa o tempo a citar as suas frases anti-sociais. De notar que Philip, anteriormente, foi um viciado em sexo, que todas as noites tinha de ter uma nova conquista e aventura.
O atravessamento da ponte, da barreira até ao mais íntimo de cada um, só acontece pela fragilização individual, pelo choque, pelo dar um passo
Philip, Pam, Tony, Bonnie, Rebecca, Gill, Stuart... e Julius. Problemas de isolamento, de relacionamento, de afecto, de alcoolismo, sexuais... que vão sendo esmiuçados em conjunto, tentando novas abordagens. As relações que se vão estabelecendo entre eles, as tensões, os gritos, vão permitir que cada um deles olhe para dentro de si e encontre a peça chave que desarmadilha o edifício em que estão prisioneiros. E quando começam a descer as barreiras, a ficar mais dóceis interiormente, dá-se o click.
Ambos são livros profundamente psicológicos e que fazem viagens profundas ao interior de cada um.
Como ponto comum aos dois livros, essa procura no mais profundo de cada um, extraindo as forças para continuar a andar, para olhar o futuro.
Por outro lado, enquanto “Quando Nietzsche Chorou” é mais positivo, foca muito a amizade, este “A Cura de Schopenhauer” centra-se nas disfunções relacionais, nas incapacidades para fugir ao isolamento e relacionar-se.
Inicialmente a leitura de “A Cura de Schopenhauer” deixou-me de pé atrás. Mas, a partir de certa altura, fui sugado pelo enredo e li convulsivamente para saber a “solução”. E muitas interrogações ficaram na minha cabeça, para mim. Foi como olhar ao espelho, sem filtros, sem maquilhagens. O abalo com epicentro interior é forte!
E fica um desafio para mim daqui a algum tempo: ler as duas obras sequencialmente. Se calhar será um abalo muito forte. Mas igualmente um desafio gigantesco numa perspectiva individual.